4 de agosto de 2004

Viagem a Itália - Roma - dia 1

Como diria o título do Blog: Rapadura é doce mas não é mole!

Todo mundo acha bacana que eu fui pra Itália, pergunta o que tem de bom e tal mas não sabe o que a gente passa pra viajar e dormir em albuergue, pegar os piores horários possíveis dos aviões, sempre pensar em grana na hora de comer... Mas enfim. Vocês podem até estar pensando: "Ah! Para de reclamar de barriga cheia!". Pode até ser, quem sabe. Vamos aos fatos então.

O jeito mais barato que a gente achou pra ir a Itália foi de avião pela Ryanair - empresa famosa pelos vôos baratos. A gente pagou umas 55 libras (300 reais), se não me engano, pelas passagens. Mas é claro que nada nessa vida é de graça. O aeroporto que a Ryanair usa é o Stanstead que fica bem longe e é bem difícil de chegar.

Londres tem uns 5 aeroportos se não estou errado: Heathrow, Gatwick, Luton, Stanstead e algum outro que a maconha não me permite lembrar agora.

O outro problema é o horário do vôo. Não basta ser barato, tem que ser o mais barato possível! E pra isso a gente teve que pegar o vôo das 6:25h da madruga. Mas o maior problema não é horário do vôo. O problema maior é chegar no aeroporto nesse horário! Simplesmente não tinha como!

O que fizemos então? A única alternativa que sobrou foi a de dormir no aeroporto durante a noite para estar por lá na hora exata. E foi o que fizemos.

Saímos daqui de Southampton às 20h e fomos de ônibus para Stanstead. A viagem demorou 4h! A gente se enganou e comprou o trajeto mais longo e por isso demorou tanto. O ônibus foi a Londres primeiro e depois de 1h na estação Vitoria a gente pegou outro ônibus para Stanstead.

Deu tempo até pra uma soneca como revela essa linda foto tirada por alguém que diz ser minha namorada! Ela ainda disse: "Pena que não pegei na hora que você estava babando". Que amor!

Quando foi meia-noite chegamos no aeroporto. E a gente pensava: "Puta que pariu! Que negócio estranho! Vamos ter que dormir pelos cantos do aeroporto!". Mal sabíamos o que esperava pela gente. E lá fomos nós. Quando a gente começou a caminhar pelo aeroporto deu pra ver que aqui não era algo tão estranho assim não. Existiam, sem qualquer exagero meu e provavelmente Léa, Evandro e Elen podem ratificar o que estou falando, centenas de pessoas dormindo sobre as cadeiras do aeroporto. A gente continuou a caminhar pelo aeroporto pra procurar uma cadeirinha pra gente mas estavam TODAS ocupadas! Quanto mais a gente andava mais a gente via gente espalhada pelo chão do aeroporto! A gente teve que andar desviando das pernas no meio do caminho! É surreal! Hehehe!

A gente logo viu que o nosso destino era mesmo o chão! E até chão disponível era difícil arrumar! EU JURO!!! A gente rodou o aeroporto todo umas 2 vezes até encontrar um lugar melhorzinho. Estava difícil achar "um lugar ao chão". Acreditem! Mas quando a gente achou foi em alto estilo. A gente arrumou logo uma suíte! Era um corredor estreito numa quina entre o painel que mostrava os vôos e a parede. E logo perto tinha a entrada para os banheiros, daí eu dizer que era uma "suíte"...

Como o nosso "quarto" era perto do banheiro o trânsito era constante. Mas mesmo assim a gente tentou dormir. Eu joguei uma toalha de rosto, que levei pra me enxugar nos albuergues, no chão e a mochila virou travesseiro. O frio tava comendo no centro e a gente alí deitado no chão duro.

Eu só pensava em minha mãe. Eu não disse a ela que o esquema era esse. Lógico! Daí eu pensava nela me vendo naquele chão e eu ria. Mas "o que não mata engorda", já diria Aristóteles.

Não tinha posição boa pra dormir. Qualquer jeito que a gente ficava era ruim. De lado doia, de costas doia. Eu fiquei acordado até que fui dominado pelo cansaço mesmo. Ao contrário de Evandro por exemplo. Esse com 5 minutos, sem qualquer exagero, já estava nos prestigiando com a sua serenata roncadora. Serenata essa que durou a noite toda sem intervalos.

Pela cara do cidadão dá pra perceber que ele dormiu bem né?

A gente levantou umas 4:30h e fomos fazer check-in. Aquele povo todo que estava pelos corredores parece que foi pra nossa fila apenas. Eram aproximadamente 352 pessoas na nossa fila. Depois de 2h de espera e devidamente checkados a gente foi pro avião. O portão de embarque era o mais longe possível! O último dos derradeiros. A gente andou bem uns 2 kilômetros até chegar no bendito. Quando a gente entrou no avião viu que o esquema da Ryanair era diferente. Não tinha cadeira marcada. Era chegando e sentando (lá ele) que nem em ônibus coletivo.

Umas 2 horas e meia depois a gente chegou a Roma. Eu fui o único a ser fichado na imigração. Todo mundo passou rapidinho, inclusive a Léa que tinha a mesma entrada negada na Inglaterra quando a gente voltava da França. O cidadão quando viu a cruz em meu passaporte no dia 26 do mês passado fez uma cara de assustado, olhou pra mim com cara de quem procura por terrorista e conversou com o colega do lado. Depois ele virou pra mim, perguntou o meu nome e colocou o número de meu passaporte no meu computador. Nada demais.

Do aeroporto a gente pegou um ônibus até a estação e de lá um trem até a estação Roma Termini. A estação da foto.

De cara a gente vê logo que a Itália não é a Inglaterra. A arquitetura é muito diferente. Mais simpática e menos padronizada e tão sem ciratividade como a inglesa. Na Inglaterra as casas são todas iguais, como um conjunto habitacional. Muito horrível.

O calor que estava fazendo na Itália fio algo incrível também. Era um mormaço incrível. Eu até preví uma chuva que veio a cair um ou dois dias depois. Me senti em Salvador no verão. A única diferença era que eu tinha uma mochila nas costas e não estava em alguma praia tomando um Skol gelada.

Outra coisa que a gente observa de cara é a quantidade de Scooters pela rua. É uma quantidade considerável. Dá até pra vocês verem algumas na foto paradas em frente a Roma Termini. A quantidade de carrinho pequeno a la Mr Bean também é grande. Tem muito Smart. Muito mesmo. E muito também daqueles carrinhos ridículos de 3 rodas e que só cabe uma pessoa.

Outra coisa que a gente viu foi o mangue que é o transporte público. Eu, infelizmente, estou mal acostumado com a Inglaterra. Aqui o ônibus passa sempre no horário. Se estiver adiantado ele para um pouco no ponto pra chegar na hora certa. O trem quando atrasa 2 minutos apenas é anunciado nos monitores e alto falantes. E na Itália é que nem no Brasil. Nada chega na hora.

Outra coisa ruim é que pra comprar o bilhete do ônibus você tem que ir em bares, lanchonetes e lugares do tipo. Não se vende bilhete no ônibus. Você simplesmente entra no ônibus, coloca o bilhete numa máquina e pronto. Ninguem cobra de você. É na base da confiança. Isso ia dar muito certo num país como o Brasil por exemplo.

O bilhete tem validade de 90 minutos e você pode ficar pegando quantos ônibus quiser nesse espaço de tempo com o mesmo bilhete. O mesmo vale pra metrô e trem.

Na estação de trem a gente comprou logo um bilhete pros 3 dias. Custou 16 euros. Caro pra cacete. No fim das contas a gente viu que comprou errado porque a gente achou depois por 3,10 euros o dia o que ficava menos de 10 euros pros 3 dias. Enfim.

E no fim no fim das contas a gente não precisava ter comprado absolutamente nada porque ninguem checa zorra nenhuma mesmo. Até na estação de metrô ninguem checa! Como a gente tinha esse bilhete especial a gente não passava pela catraca. A gente passava por uma porta ao lado dos guardinhas e tinha que mostrar aos caras o bilhete. Na primeira vez a gente mostrou, na segunda também. Na terceira a gente chamou o cara pra mostrar mas os caras não estavam querendo conferir porra nenhuma. Era nego conversando, nego no telefone, bem Brasil mesmo. Depois disso a gente passava balançando os bilhetes, ninguém olhava e ficava por isso mesmo.

Os metrôs são um capítulo a parte. Eu acostumado com Londres que tem pra mais de 15 linhas de metrô circulando a cidade inteira me deparei com Roma que só tem 2 e que só cobre metade da cidade. Teríburo, como dizem os japoneses quando querem falar terrible.

Os metrôs são umas obras de arte inclusive. Não sei como eles conseguem pichar tanto os vagões! Tem que correr muito pra conseguir pichar um vagão daqueles. E os 300 vagões do metrô são pichados. Dentro inclusive.

Voltando a viagem... O albergue ficava perto de Roma Termini. A gente andou 4 quarteirões e chegou por lá. O quarto era para 6 pessoas. Eram 3 beliches. Tinham 5 banheiros no andar. Valeu o preço.

De lá a gente foi comer uma coisinha. Começamos com o quê? Pizza, claro! Mas esqueça tudo o que te disseram sobre pizza. A que a gente comeu era algo beeem diferente da NOSSA pizza.

Tinham pizzas quentes e outras frias mas todas quadradas! As frias tinham a massa normal que a gente conhece e outras eram como um pastel posto no forno ao invés de frito. Uma coisa crocante como uma Cream Cracker. Muito estranho. Mas não era ruim não. Como era por peso eu comi um pouco de cada uma. Foi gostoso. Bem melhor que batata recheada com feijão por exemplo.

De barriga cheia e cansados a gente seguiu para o Coliseu.

Esse é um daqueles lugares que você e pensa: "Eu tô aqui!". Tipo Big Ben, Torre Eifel, Bar do Chuleta e tal.

O Coliseu era uma arena construída no ano 72 pra abrigar as lutas dos gladiadores e de animais. A entrada era de grátis. Percebam que a estratégia de "pão e circo" era usada há milênios atrás pelos governantes. A população romana na época era pobre mas não se revoltava enquanto existiam os espetáculos no Coliseu e outras arenas. Ví isso em algum documentário do National Geographic. Blog também é cultura. Qualquer semelhança com o nosso carnaval provavelmente não é mera coincidência.

A arena abrigava 55.000 pessoas! É incrível que uma construção milenar daquela conseguia abrigar tanta gente. Eu cheguei a escutar um guia desses falar em 80.000 pessoas em determinados acontecimentos. Provavelmente quando o Maximus matou Lucius no filme Gladiator. O fato de existir 80 entradas no Coliseu facilitava o acesso desse monte de gente.

Algumas escavações feitas no século XIX acabaram por descobrir uma rede de catacumbas embaixo da arena do Coliseu. Era nessas salas sob a arena de onde surgiam animais e guerreiros. Eram engenhocas muito avançadas para a época. Parecia aos olhos do público que leões e ursos surgiam de repente do chão da arena como num passe de mágica. Isso por causa dos elevadores e rampas subterrâneos. Fiz um videozinho que mostra a visão que a gente tem do Coliseu.

Algumas fotos das maquetes das engenhocas subterrâneas do Coliseu.

Próximo ao Coliseu está o Arco de Constantino que comemora a vitória de Constantino sobre o seu co-imperador Maxentius no ano de 312. Essa história de construir arcos pra comemorar vitórias é interessante. Já pensou se isso pega no Brasil? Cada campeonato brasileiro ia gerar um Arco desses em alguma cidade brasileira. Brasília ia ter uns 5 arcos enormes pra comemorar o Penta do Brasil. Pelo menos Salvador não ia ser tão infestada de arcos. O Jahia ganhou umzinho só em 1988 mas do jeito que torcedor do Jahia é tirado ia construir um monte de arco pra comemorar título baiano, vitória em BaVi, campeonato do nordeste e a tão famosa Copa de Num Sei Quê que o Jahia acha que foi um campeonato brasileiro no ano em que o Coliseu foi erguido... Ai ai...

Rola uma exposiçãozinho dentro do Coliseu com vídeos e relíquias antigas.

Do Coliseu a gente seguiu para o Foro Romano. O Foro Romano era o coração da antiga Roma. Era nele que se concentravam a vida política, comercial e jurídica da cidade.

Com o tempo o Foro Romano foi ficando pequeno e depois foram criados outros chamados Foros Imperiais.

No Foro existem mais 2 arcos: Arco de Titus e Arco de Septimius Severus. Eu não sei exatamente qual é qual agora. Mas enfim.

É um lugar interessante de se ver. Imaginar aqueles prédios como eram a mais de 2000 anos atrás. É uma sensação bacana. Fiz um videozinho pra mostrar mais ou menos como é por lá.

De lá a gente seguiu andando até a Piazza Venezia. Nessa praça está o gigantesco Monumento Vitor Emmanuel que comemora a completa unificação da Itália em 1870. É um prédio incrivelmente grande, lá ele.

O calor era insuportável na Itália como eu disse. A única vez que eu ví um daqueles termômetros foi em Pisa. Eram 20h e o termômetro marcava 30ºC! Ninguem merece! A gente tem q tentar se refrescar nas inúmeras fontes em Roma. Pense numa cidade em que cada esquina tem uma fonte!

E a gente foi pra mais famosa de todas: a Fontana di Trevi. Originalmente a fonte era o fim de um aqueduto que data do ano de 19 aC. A fonte é linda. Bem bonita mesmo. Conta a lenda que quem jogar uma moeda com a mão direita sobre o ombro direito de costas para a fonte vai voltar a Roma. Eu queira muito voltar a Roma e pensei em jogar logo uma moeda de 2 euros. Mas aí a Léa me lembrou: "Se você quer voltar TANTO assim é capaz de você não passar na imigração e ficar por aqui!". Aí eu caí na real e joguei uma moedinha de 1 centavo apenas. Voltar eu volto, mas não essa semana!

Meu desejo: "Eu quero voltar a Roma Dona Fontana di Trevi mas não precisa ser essa semana!"



E da série "coisas estranhas que a gente sempre encontra quando põe os pés pra fora do albuergue na Itália" estão uns óculos escuros ridíocros! Pense numa coisa ridícula! Pois então, esses óculos são mais!

Pra qualquer lado que você olhasse tinha nego com esse óculos abelhão-que-cobre-a-cara-toda. É impressionante mesmo. É de um mal gosto inacreditável e todo mundo usa. Será que pinta umas modas dessa no Brasil? E tem mais. Lembra se uma mulher com óculos estranho que eu mostrei em Londres há 3 semanas atrás? Então... Eu tenho quase certeza que a gente esbarrou com essa mesma mulher com o mesmo óculos num trem desses.

Pra ilustrar a moda está a italiana em Londres, a Léa, linda, arriscando um visual novo e um cidadão risonho na moda.



Voltando ao passeio. De lá a gente seguiu à Piazza di Spagna. No alto dos inúmeros degraus está a Igreja Trinità dei Monti, que estava reformando inclusive. Ao que parece tudo está reformando na Itália.

Veja o cardume de gente sentada nos degraus da escadaria.

De lá a gente voltou ao albuergue. Todo mundo acabado! A gente acabou passando na frente de um restaurante super bacana com um Menu Turístico atrativo. Tinha o primeiro prato, segundo prato, vinho e sobremesa por 15,50 euros. E a gente foi nessa.

O lugar era simpático. Algumas mesas eram na rua e a gente ficou por lá por fora mesmo. O clima era gostoso. O atendimento excelente. A comida foi gostosa. Eu comi penne, lá ele, a bolonhesa. Depois comi um frango gostosinho com umas batatas num sei quê.

Depois disso a gente foi dormir. Como sempre Zorbão é o primeiro a dormir. E como manda o marketing ele também é o primeiro a fazer a propaganda que está dormindo com a sua alegre serenata roncadora. Ninguem merece!

Depois de abstrair bem a serenata de Zorbão fomos dormir que amanhã é dia de ir no Vaticano pra pedir perdão aos pecados.

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