21 de outubro de 2004

"Hoje vai ser uma festa, bolo e guaraná muitos doces pra você!"

Hoje eu acordei diferente do normal. Geralmente eu acordo com mal humor e não quero nem olhar pra cara de ninguem. Se um lindo passarinho pousa em minha janela eu olho pra ele com uma cara diabólica e espanto o bicho gritando: "sai daqui cabrunco!". Mais ou menos assim... Bem suavemente...

Mas hoje foi diferente... Hoje eu acordei diferente mas não sei bem ao certo porquê. Acordei cantando... Saí, escovei meus dentes, e o Evandro e a Elen me deram os parabéns. Ganhei até presente!

Olhei pro balcão e lá estava uma encomenda vinda do Brasil. Era o presente da Léa. Chegou no dia certo e o presente não podia ter sido mais perfeito.

Mas o meu coração está diferente hoje. Geralmente eu não gosto de aniversário não. Não gosto de fazer festa ou coisa do tipo. Geralmente só vou a algum restaurante e basta. Basta estar com os amigos e a família. Basta receber um telefonema sincero ou um email carinhoso.

Já estava até gostando da idéia de não comemorar nada. Enfim. Mas parece que vou a Tavernetta hoje. Hoje é quinta feira e é dia de noite brasileira. Vou aparecer lá só pra ver as caras conhecidas. Estava conformado...

Mas de repente recebo um email de uma amiga minha: da Flávia. A Flávia é uma pessoa tão pura, tão amiga... Eu sempre costumo dizer pras pessoas que não existe isso de amizade entre homem e mulher. Sempre vai haver um certo risco ou interesse... Pras mulheres pode até ter mas para os homens não... Mas isso é bobagem... Hoje eu parei pra pensar na Flávia e eu consegui sentir um carinho e uma saudade tão grande que eu ví que isso tudo que eu dizia era bobagem. A Fau é como um anjinho com aquele sorriso gostoso que me escreve palavras tão confortantes de vez em quando...

Depois que eu li o email dela foi que eu me toquei que estava tão longe de casa. Tão longe do colo da mãe, do abraço do pai, do carinho dos irmãos e da companhia da família e velhos amigos...

A saudade apertou de novo no coração... Apertou forte de novo. Mas é só por pouco tempo... Daqui a pouco eu tô chegando. Falta pouco mais de um mês.

Anderson acabou de me ligar pra perguntar onde seria a festa, se em Dinha ou em uma churrascaria. Então fica acertado assim... 20h, depois do trabalho, todo mundo lá em Dinha que a primeira grade é por minha conta beleza? Espero ver todo mundo por lá! (Só assim pra eu pagar uma grade!)

Deixo aqui um abraço forte pra cada um que me mandou ou ainda vai mandar um email, uma mesagem, um telefonema, um oi, enfim... Saudade grande de todos mas a hora tá chegando...

19 de outubro de 2004

Ali-G

Falem sério... Eu fiquei parecido com esse infeliz aí do lado???

18 de outubro de 2004

Mano

Pois é... Virei mano!

O frio tá comendo no centro como vocês já sabem. Teve um dia que eu tava no quintal lavando roupa. A maquina fica do lado de fora da casa... Um frio miseravel! Como agora tem maquina de secar a ultima leva de roupa acabou umas 20h.

De repente eu olho pro chão e vejo um ponto azul andando no chão... Alguém sabe que porra é um ponto azul andando no chão na Inglaterra? Exatamente. É uma formiga de gorro voltando pra o formigueiro!

Eu pensei: tenho que fazer o mesmo.

Teve um dia que eu estava andando na rua a noite. Estava bem frio. Uns 5ºC. Teve uma hora que a minha orelha começou a coçar um pouco. Daí eu fui tentar coçar a orelha mas eu simplesmente não sentia NADA na orelha! Ela tavatão congelada que eu não conseguia sentir o meu dedo coçando.

Sabe quando você toma anestesia no dentista e logo que sai do consultoria o seu queixo começa a coçar? E você pode rasgar a pele que não sente nada mas a porra da coceira continua ali?! Pois é! A mesma coisa!

Depois disso olha como eu saio de casa no frio...



Momento Zéu Britto

Continuando o nosso estudo musical sobre a vasta obra de 4 músicas do excepcional Zéu Britto chegou a vez de Açogueiro. Uma obra com letra de triplo sentido que vocês podem apreciar na transcrição abaixo.

Zéu fala nesse poema sobre a arte de enfiar o bife num forno temperado. Em outro momento ele se auto intitula a si próprio de açougueiro e fala da arte de dividir a carne ao meio... Se é que vocês o entendem...

"Me faça de bife
Vou servir de consolo
Me tempere com seu molho e depois
Me asse no forno do amor

Me sirva pra quem quiser
Pode lamer meu pé
As descaradas se "embreagarão"
Minha carne comerão

Me chamam de açogueiro, eu sei
O que que eu posso fazer
Gosta de carne, pelegrina?
Tenho um açougue ali em Amaralina
E bebo doses ordinárias de whisky Red Label!

Canivete, navalha, faca ou facão
A carne inteira grita
Quando eu meto a mão
Açougueiro é minha profissão
E eu adoro!

..."

Ouça essa preciosa canção:

12 de outubro de 2004

London, London

Quando eu acho que estou bem, que não sinto mais tanta saudade de casa, quando penso que estou resignado a viver longe de minha família e amigos me acontece isso...

Hoje pela manhã eu lembrei que era aniversário de minha Tia Valma. Lembrei e logo depois esqueci como de costume. Passei o dia todo sem lembrar. Deitei a noite pra dormir e fiquei pensando na vida. Pensando na Léa, pensando na família, nos amigos, na viagem de volta pro Brasil que está chegando.

Como um estalo me veio a mente que era aniversário de minha Tia Valma. Ainda era. Pelo menos no Brasil com 4 horas mais cedo. Liguei pra casa dela mas ninguem atendeu. Lembrei que minha mãe tinha falado que iam todos para Cabuçú. Lembrei que era feriadão. Liguei pra lá...

Falei com minha Tia Valma. Desejei felicidades e parabéns. Lembrei de um sonho que tive com ela semana passada. Estávamos em Cabuçu, na mesa de café do fundo. Estávamos eu, Tia Valma ao meu lado e do outro lado Mariana, minha priminha, e outras pessoas da família que não me lembro quem eram. Eu estava com o pé muito frio e isso refletiu no sonho. Reclamei que o meu pé estava muito frio. Nessa hora Tia Valma fala com o pessoal da mesa que o meu pé ficava sempre muito frio, o que era verdade. E lembrou de uma brincadeira que eu fazia pondo o pé gelado nela na época que eu morava na casa de meu Tio Dego. Essa brincadeira nunca existiu na realidade mas talvez por brincar com os pés de Tia Valma seja fazendo cócegas ou estralando os dedos dela isso veio a tona. Tia Valma sempre tão indefesa e eu sempre brincalhão nunca perco uma oportunidade...

Lembro que quando eu lembrei no sonho dessa brincadeira que nunca existiu eu deitei nos braços de Tia Valma e chorei como uma criança. Soluçando mesmo... A Mariana perguntou por que eu tava chorando e Tia Valma disse que "É saudade Mari. É saudade!".

De repente eu acordo do sonho, com os olhos cheios de lágrimas, coração tão apertado mas tão apertado que eu só consegui continuar chorando... E fiquei chorando ainda por alguns minutos com pena de mim mesmo...

Até então eu não achava que estava com tanta saudade de casa. Achei que era só um fato isolado. Mas hoje depois de falar com Tia Valma eu falei com minha mãe e depois com Camila e depois com meu pai.

Meu pai falou que tinha comprado um CD de José Augusto, eu acho. Que tinha a música London, London nele. E ele me perguntou se a música era triste. Ele disse que nessa versão uma parte da música é cantada em português e disse que a música falava de solidão e parecia triste. Eu disse a ele que não lembrava da letra mas que ia olhar.

Mandei beijos a todos com uma saudade enorme no coração... A família inteira estava lá se divertindo. Minha mãe e Camila roucas de tanto rir. Ao fundo eu ouvia o videokê... Eles estavam fazendo competição no videokê como sempre acontece. Me deu uma vontade tão grande de estar lá no meio com todos eles... Tão grande.

Resolvi olhar a letra de London, London e acabei não aguentando e caí no choro. Eu me identifiquei tanto com a música que não teve como não desmoronar daquele jeito. Pra mim é tão claro cada palavra que o Caetano escreveu. Eu me ví em cada linha da música. Cada palavra.

Quando ele fala do povo apressado mas calmo, do guarda agradecido por ajudar, do céu cinza, da grama verde e dos olhos azuis, de andar sem rumo e não ter ninguém pra dizer olá... Enfim...

Chorei de saudade de casa. De saudade dos amigos. Do Brasil. De saudade de tudo.
Chorei por me sentir sozinho, sem ter pra onde ir e nem pra quem dizer olá.
Chorei por saudade. Por me sentir incapaz. Por me sentir pequeno nisso tudo.

Liguei pra Léa pra desabafar. Pra pedir colo. Um colo distante mas um colo. Melhor não ligar pra casa de volta pra não deixá-los preocupados ou cortar o clima gostoso que estava por lá... Minha agonia logo passa. Sempre passa...

Depois de muitas outras lágrimas ela conseguiu me acalmar e eu vim escrever isso pra aliviar mais o coração.

Deixo aqui pra vocês a letra de London, London pra vocês verem como o Caetano conseguiu colocar tanto em tão poucas linhas. Talvez vocês não entendam exatamente o que a música quer dizer mas pra mim caiu como uma luva, infelizmente.


London, London
Caetano Veloso

I'm wandering round and round, nowhere to go
I'm lonely in London, London is lovely so
I cross the streets without fear
Everybody keeps the way clear
I know I know no one here to say hello
I know they keep the way clear
I am lonely in London without fear
I'm wandering round and round, nowhere to go

While my eyes go looking for flying saucers in the sky

Oh Sunday, Monday, Autumn pass by me
And people hurry on so peacefully
A group approaches a policeman
He seems so pleased to please them
It's good to live, at least, and I agree
He seems so pleased, at least
And it's so good to live in peace
And Sunday, Monday, years, and I agree

While my eyes go looking for flying saucers in the sky

I choose no face to look at, choose no way
I just happen to be here, and it's ok
Green grass, blue eyes, grey sky
God bless silent pain and happiness
I came around to say yes, and I say

While my eyes go looking for flying saucers in the sky


London, London
Caetano Veloso

Eu estou vagando por aí, sem ter pra onde ir
Eu estou sozinho em Londres, Londres é encantadora assim
Eu cruzo as ruas sem medo
Todos mantem o caminho livre
Eu sei, eu sei, ninguem pra dizer olá
Eu sei que eles mantem o caminho livre
Eu estou sozinho em Londres sem medo
Eu estou vagando por aí, sem ter pra onde ir

Enquanto meus olhos saem procurando por discos voadores no céu

Domingo, segundo, outono passam por mim
E pessoas se apressam tão calmamente
Um grupo se aproxima de um policial
Ele parece tão grato em ajudá-los
É bom viver, ao menos, e eu concordo
Ele parece tão grato, ao menos
E é tão bom viver em paz
Domingo, segunda, anos e eu concordo

Enquanto meus olhos saem procurando por discos voadores no céu

Eu escolho rosto nenhum pra olhar, escolho nenhum caminho
Acontece apenas de eu estar aqui, e está tudo bem
A grama verde, olhos azuis, céu cinza
Deus abençoe a dor silenciosa e a alegria
Eu vim pra dizer sim, e eu digo

Enquanto meus olhos saem procurando por discos voadores no céu

7 de outubro de 2004

Frio do caralho!

Não tem mais pra onde correr...

Quando eu digo ninguem acredita mas é frio de verdade... E vocês ainda abrem a boca pra reclamar que Salvador fez uma mínima de 18º durante o inverno. Ka ka ka!

Hoje quando eu acordo tava sentindo um frio do caralho, la ele. Muito frio mesmo. Não sabia o que estava acontecendo. Levantei e peguei meu molenton. A parte de cima...

A essa altura eu estava de calça, camisa, moleton e três meias. A vontade de colocar uma luva é grande mas daí como é que eu escrevo no blog?

Enfim... Quando eu abro a janela pra ver se não tinha neve caindo eu me deparo com a minha janela toda embassada...

É mole ou quer mais... Olhei na internet e ví que hoje vai fazer 4ºC a noite... Acho que vou colocar uma cerveja pra gelar do lado de fora pra tomar no almoço...

PS: Gente. Já falei, la ele! Não precisa contestar minha masculinidade nos comentários...



Momento Zéu Britto

Continuando a nossa incursão musical na fantástica obra poética do Zéu Britto hoje é dia de Soraia Queimada para alegria de Sassá.

Essa música relata a vontade de Zéu de queimar a pobre da Soraia. Aparentemente uma dor de corno que ele extravasa numa poesia belíssima. O poema em sí mistura a ira de um coração partido, passa por uma cruel pirotecnia e chega até a flertar com o sobrenatural.

Mais uma composição fantástica.

"
Eu queria ter um lança chamas
Eu queria ter uma fogueira
Eu queria ter somente um fósforo
Eu queria ter uma vela acesa

Pra torrar Soraia
Pra ver torrar seu couro
Pra deixar somente o osso exposto ao Sol

E depois da meia noite Soraia vai voltar
Ela vem toda queimada se vingar. Se vingaaar.

Eu quero ver Soraia queimada
Soraia queimada
Por que Soraia me queimou

..."

Ouça mais essa maravilhosa poesia musicada: