30 de agosto de 2004

Carnaval de Notting Hill

Hoje é Bank Holiday. Aquele feriado sem razão que os ingleses inventam ao invés de ficar inventando comemorar data de padroeira, independência até de bairro, Tiradentes e afins... E aqui funciona muuuito mais! Porque aqui os feriados SEMPRE caem na segunda ou na sexta! Só alegria!

Mas enfim. Isso eu já escrevi em outro post.

O que vale é que ia ter Carnaval em Notting Hill. E a gente não podia deixar de ver como era. A propaganda que Zorbão fazia era enorme! Dizia que era bacana mesmo! Eu fui meio ressabiado mas fui.

Pegamos o busú 9:40 e seguimos pra Londres. Uma hora depois lá estávamos nós, na pista, com o ônibus quebrado. Eu pensei: "Só pode ter sido praga da Léa. Só pode!".

Depois de 40 minutos esperando um outro ônibus e mais alguns minutos de viagem a gente chegou a Londres e fomos comer num chinês. Era esquema de buffet então eu comi demais. Eu não devia ter comido tanto. Eu comi como o Flávio de antigamente. Aquele que senta numa churrascaria e para de comer quando a conta chega na mesa. Mas o meu estômago está acostuado a menos comisa e daí ficou tudo lotado... A barriga tava que não entrava mais nada. E fui assim pro Carnaval. Veja só!

Chegamos lá e percebi logo que era carnaval na Inglaterra. Meio mundo de gente informando tudo. Meio mundo de gente organizando tudo. Bem diferente do que eu estou acostumado.

Compramos umas cervejas num mercado e fomos seguindo o fluxo. Logo ví que não cabia nem 100ml de cerveja em meu estômago de tanta comida quanto mais as 3 latas de 500ml que eu comprei. Mas eu ia tentando jogar pra dentro de qualquer forma.

Tinha bastante gente. Não era nem um Micareta de Feira mas tinha muita gente. Foi a primeira vez que eu vi aquela cidade viva. Logo logo eu ia entender o porque.

O caso é que simplesmente não tinha inglês por lá. Tinha um monte de turista, como eu, querendo conhecer a festa além de toda a África que estava por lá. A grande maioria da Jamaica. Impressionante como tem gente de fora em Londres. Era uma festa do resto do mundo em Londres. Mas eu não vi latino por lá. Achei que ia achar mais. Mas a maioria é africano mesmo.

Quando a gente chegou no "circuito" viu logo de cara uma escola de samba. E eu pensei que o esquema ia ser esse mesmo. Esse esquema de samba de gringo. A gente foi chegando perto e viu: "Escola de Samba Unidos de Londres".

Desculpem pelas fotos mas foram tiradas com uma microcamera de Evandro e, acima de tudo, POR Evandro, o que piora bastante a situação.

Era um caminhãozinho com meia dúzia de auto-falante. Com o puxador e uns outros em cima e atrás vinha a bateria. Mais atrás vinham as "alas". Cada ala com 10 pessoas no máximo vestidas com umas fantasias meia boca. Comédia...

Mas a galera tava empolgadíssima!!! Os gringos achando aquilo a oitava maravilha do mundo.

A gente cortou caminho pra encontrar essa escola de samba mais na frente. Daí aconteceu o inexperado. Quando a gente tá chegando o que o cara começa a cantar? "Poeira" de Ivete. Eu não entendi nada! Começou a repetir a música um monte de vezes e aí eu percebi que tinha uma brasileirada por lá pulando de se acabar. Eu pensei: "Tô em casa. Esse negócio vai ser bom".

O infeliz do cantor não sabia letra da música não e ficava inventando na hora. Hilário!!! Parecia repentista! Hehehe! Mas o que eu queria mais? Um "trio" na minha frente, "ivete" tocando e uma "cerveja" na mão! Só alegria.

Depois de meia hora de improviso com Poeira ele emendou um Dandalunda! Eu disse: "Tô em Salvador!". Quando a gente fica muito tempo longe de casa a gente começa a abstrair mais as coisas, gente. Não se espantem não. Como disse Rui Barbosa: "Em terra de cego quem tem um olho é rei".

E ficamos lá eu, Zorbão e Elen, pulando e lembrando de casa ao som de "dandalunda, maibanda coque"!

Mas alegria de pobre dura pouco nego véi. Quando acabou essa música o "trio" saiu correndo. O motô jogou uma segunda e foi embora. Com 100 metros de distância ninguem escutava mais nada. Ridíocro!

E a gente ficou tentando ver o que fazia. Demos uma volta no circuito. Muita coisa estranha. Muita gente feia e mal encarada. De vez em quando passava um "bloco" com um "trio" tocando em playback e uma galera dancando atrás. Mas o problema é que os caras colocam umas grades de ferro entre o trio e você. Fica um espaço pequeno de andar. Não dá pra ir atrás do trio por exemplo. É coisa pra gringo sentar e apreciar, tá ligado?

No miolo da festa tinham vários palcos menores com uns sons muito sem graça. Tinha uns Drum'n'Bass rolando, muuuito reggae, ragga e afins. Uma fuleragem total. E eu ainda na esperança de achar uns brasileiros tocando algo mas quem disse? Nada... Foram só aquelas 2 musiquinhas e mais nada.

E foi assim esse tal Carnaval de Notting Hill. A viagem valeu pra conhecer e pra pular duas musiquinhas. Mas ano que vem Zorbão vai sozinho mesmo...

14 de agosto de 2004

Léa de volta ao Brasil

Três dias depois da viagem a Itália chegou o dia da Léa ir embora. Mas esse tópico não vai ser longo e reflexivo. Vai ser só pra contar a vocês do acontecido.

Agora estou eu aqui, sem ela mas com ela. E a gente está, como diriam os ingleses, olhando para frente pro final do ano quando ela for pra Bahia e a gente vai poder ficar junto novamente.

A saudade é enorme. A gente tava muito grudado aqui e quando a vida na Inglaterra começou a parecer um pouco melhor ela foi embora. Mas a vida é assim. Nunca é do jeitinho que a gente quer.

Mas o principal disso tudo é que a gente se gosta muito. Temos nos falado bastante. Seja por telefone, skype, email, messenger, telepatia ou sonhos.

E no fim do ano eu vou apresentar a todos vocês esse menina linda, fantástica, especial, de bem com a vida e, principalmente, minha, que é a Léa.

10 de agosto de 2004

Viagem a Itália - Florença - dia 7 e 8

Acordamos tarde e fomos, eu e Léa, pro supermercado comprar o café.

Zorbão nos deu as direções e a gente seguiu até o lado da estação de trem. Compramos um monte de coisa. Vim com as duas mãos cheias de coisa. Léa queria levar mas não tava pesado e eu, gentleman que sou, levei os dois sacos mesmo.

Tentamos ver alguma casa de câmbio e acabamos passando por uma galeria subterrânea perto da estação. Não achamos o que queriamos e fomos voltar pro albuergue. Foi aí então que eu me lembrei que não estava na Inglaterra e sim na Itália, quase no Brasil.

Eu sempre fico atento. Sempre! Em viagem então mais ainda porque você anda com câmera fotográfica na mão, eventualmente um Palm com o esquema do metrô, enfim. A atenção é redobrada. Na Inglaterra você vê neguinho andando com notebook na rua a torto e a direito mas eu sabia que na Itália o esquema era diferente.

Enquanto a gente estava subindo as escadas pra chegar a rua, vindo da galeria subterrânea, eu com as duas mãos cheias de saco de supermercado, eu olho pra trás e vejo, a principio, um cara colocando a mão na bunda de Léa.

Aquilo me pegou de surpresa. Um cara daquele querendo pegar na bunda de Léa tava procurando problema.

Foi então que eu percebi que a mão dele estava abrindo a bolsa de Léa e não na bunda dela. Aí eu entendi tudo. O filho da mãe tava querendo roubar a Léa. Abrir a bolsa e levar alguma coisa.

Quando eu entendi o que tava acontecendo o sangue subiu. Eu parei no meio da escada, encarei o cara e com o sangue quente falei em belo e culto português: "QUAL O PROBLEMA MEU AMIGO?".

Lembro que o cara perguntou em italiano algo como "o que disse". Depois ele mandou um "what" pra mim. E eu olhando pra cara cínica dele, com as duas mãos cheias de saco de supermercado, no meio de uma escada.

A Léa não estava entendendo absolutamente nada! Ela virou pra mim perguntando o que estava acontecendo. Eu não tirava o olho do cara. Queria ver se ele ia puxar alguma coisa ou tentar levar a bolsa dela, sei lá. Não podia tirar o olho do cara.

Mandei a Léa ir embora pra ela sair daquela situação e eu ficar mais tranquilo pra resolver a questão com o cara. A Léa disse que não ia. Eu insisti: "SAI DAQUI! VÁ EMBORA!". E ela não saia... Ela não sabia o que tava acontecendo. Ela achou que o cara tava procurando frete com ela tipo em balada ou carnaval. Eu só queria que ela fosse pra um lugar seguro e pudesse pensar só no cara.

Mas o cara ficou parado na minha frente uns 2 ou 3 degraus abaixo de mim. A cara dele tava na altura da minha mão. Tava muito fácil meter a mão nele e derrubar ele naquela escadaria.

Eu virei pra Léa e falei: "Segura esse saco aqui!" e dei os sacos da minha mão direita pra ela e ela: "Não! Para com isso! Pra que isso?!". Ela sem entender nada. Ela me apertou bem forte no braço e ficou entre mim e o cara. Ai meu pai...

Eu devia ter largado as porcarias tudo pela escada e ter dado um cacete naquele cara nesse momento. Eu ficava encarando ele e ele dando uma de desentendido pra cima de mim. Daí ele começou a subir a escada e eu fui atrás dele. A Léa me agarrou bem forte e disse pra eu parar com aquilo. Foi aí que eu me dei conta que ela não tava entendendo nada. Falei da bolsa e quando ela olha a bolsa estava aberta até a metade já. Era questão de mais alguns segundos e ia dinheiro, cartão e o cacete embora. A carteira dela era a primeira coisa visível.

Impressionante como o infeliz, em questão de segundos, conseguiu abrir a bolsa da Léa até a metade, com uma mão, sem que a Léa percebesse.

Aí ela me perguntou porque eu não falei pra ela antes e eu disse que eu estava prestando atenção era no cara, se ele ia fazer alguma coisa, se ele ia puxar alguma coisa. Não tinha tempo de explicar nada naquele momento. Ela entendeu. E eu com o sangue fervendo... Doido pra ter dado um cacete no infeliz...

A gente seguiu pro albuergue e ainda deu pra ver o infeliz longe.

Cheguei no quarto de sangue quente ainda. Demorou ainda bastante pra eu me acalmar e comer alguma coisa. Mas eu não me conformava que não tinha dado um murro na cara do miserável! Enfim... Melhor assim...

Depois do sangue esfriar a gente foi até a Santa Maria del Fiore. Entramos na igreja pra conhecer. Mas depois de ter visitado a Basílica de São Pedro mais nada impressiona. A igreja é até bastante simples, mas bonita.

 

 

Um relógio no fundo da igreja pro padre não perder a hora do Esporte Espetacular no domingo!

Aqui duas fotos montadas pra mostrar o belo domo da igreja.

De lá a gente seguiu para a Galleria dell'Accademia. Queríamos ver o famoso Davi-do-pingolim-de-fora de Michelangelo. Chegamos lá e a surpresa: uma fila enorme! Por essa a gente não esperava. E a fila era debaixo de sol no meio da rua. Esse é o nosso 7º dia de viagem. Muitas horas de caminhada, muitas horas de viagem, algumas noites mal dormidas. A gente estava muito cansado pra ficar algumas horas se bronzeando no sol de Florença pra ver o Davi. E mais. Esse seria o quinquagésimo segundo museu pra visitar na viagem.

Me desculpe Michelangelo mas essa visita vai ficar pra próxima.

Resolvemos então ir à Piazzale Michelangelo. A gente sabia que a caminhada ia ser difícil mas a promessa de uma visão deslumbrante de Florença do alto do morro valia a pena. A Piazzale fica mais ou menos acima do prédio laranja da foto abaixo. E a gente estava bem mais distante do que de onde eu tirei essa foto... Mas a gente encarou o desafio.

A caminhada foi dura. Parecia que não ia acabar mais. Quanto mais a gente subia mais subida tinha. A Léa reclamou, ameaçou desistir mas a gente conseguiu chegar lá. Os dois suados e cansados mas conseguimos chegar lá.

Coitado do pezinho da Léa.

E a caminhada valeu a pena realmente. Quando a gente chega lá a visão foi maravilhosa. A gente vê toda a cidade de lá. Vê o Rio Arno cortando a cidade. Vê as montanhas emoldurando Florença. Uma vista linda!

Ficamos por lá alguns minutos. Sentamos na praça, enquanto descansávamos, e ficamos apreciando a vista.

Quando a gente resolve tirar umas fotos chega uma excursão de japonês. Parece praga. Pra todo canto que você olha tem um japonês com uma câmera fotográfica tirando foto de algo ridículo. É impressionte! Povinho estranho.

Eu achei melhor esperar os japoneses irem embora porque competir com japonês no quesito tiração de foto é derrota na certa. Tava tudo tomado. Não tinha espaço nenhum pra tirar as fotos.

Enquanto isso a gente ficou sentado junto a uma escultura de Michelangelo no meio da praça. Sempre chegava um japonês pra tirar foto do lugar. Cada foto a gente fazia uma careta pra sair na foto. Aparecia outro japonês pra tirar foto e a gente fazia outra careta. Outro japonês, outra foto, outra careta. A gente se divertia! O que deve ter de foto de japonês daquela praça com dois brasileiros ao fundo fazendo careta... Hehehe! Eu queria ver a cara deles na hora de ver a foto.

A gente resolveu então voltar pra Florença mas dessa vez de ônibus. A gente já tinha pegado vários ônibus na Itália mas não tinha comprado nenhuma passagem. Porque é aquele esquema: você compra a passagem, valida em alguma máquina e faz a sua viagem. Ninguem pergunta se você tem passagem ou não. De vez em quando algum fiscal entra no ônibus mas é raro.

Dessa vez a gente foi comprar. Foi aí que a gente descobriu que passagem de ônibus se compra em bar, banca de revista e afins, menos no ônibus. O motorista está ali só pra dirigir o ônibus. Lá vai eu comprar as passagens num bar pra ir de ônibus.

A gente fez um tour pela cidade. A descida da Piazzale Michelangelo é linda! Na verdade essa parte da cidade é super chique e as casas eram grandes mansões. A área era totalmente coberta por árvores. Bem bacana.

Depois de algum tempo descemos na estação de trem. Resolvemos então seguir até Pisa que ficar perto daqui: 1h de trem. Pegamos um trem e fomos pra lá.

Chegamos em Pisa e fomos buscar as direções pra irmos ver a principal atração: A Torre Inclinada de Pisa. Pra chegar até lá a gente viu que tinha que percorrer a cidade inteira. Na verdade a cidade é super pequena. A gente só precisaria percorrer uma única rua em forma de meia lua pra chegar até lá. Não era um percurso curto mas considerando que a gente estava percorrendo TODA a cidade era relativamente pouco.

Foi mais ou menos nesse momento que aconteceu uma das piores coisas da viagem. Pior que o quase assalto ou que o trem que era na verdade uma lotação.

De repente eu comecei a sentir uma forte pressão subcutânea, se é que vocês estão me entendendo... Mas era uma pressão forte mesmo. Eu fiquei naquela tentando segurar a onda pra ver se a vontade ia embora.

Eu talvez não devesse contar essa história aqui pra todo mundo ler mas o que eu posso fazer se aconteceu? No meio de tanta história bonita tem que ter um vexame desses. Então faz o seguinte. Quem não estiver a fim de ver essa parte segue até a próxima foto e segue lendo a partir daí, ok?

Foi como eu pensava, né? Todo mundo lendo da minha desgraça né? Ninguem seguiu até a próxima foto né? Tudo bem... Vamos ao vexame então.

A pressão vinha e voltava. E eu suava frio. Ainda tinha que andar muito até a Torre. Eu ainda tinha a tola idéia de que tudo ia ficar bem. Depois de muito andar a gente viu a Torre Inclinada. Uma visão interessante. Aquela torre enorme fingindo cair. Mas quem disse que eu prestei atenção??? Minha preocupação era outra nego véi. Eu tava preocupado em não fazer alí mesmo! No meio da rua!

Percebi que a situação era irremediável e que eu tinha que achar um banheiro LOGO! Por sorte existia no mapa que a gente pegou alguns banheiros públicos marcados. O mais próximo era imediatamente antes da entrada da Torre.

Eu, nesse momento, estava mais pra desespero que calma. A situação estava periclitante. Cheguei no banheiro público e ví logo que era tudo uma imundicie! Eu via o chão todo molhado e uma velha de uns 90 anos estava lavando o chão de um deles.

Ela veio até a mim pra cobrar 20 centavos. Eu paguei e entrei no banheiro. Quando eu ví o banheiro... O banheiro se resumia a um daqueles vazos que são enterrados no chão sabe? De banheiro de posto de beira de estrada. Não o do Renascença que é decente. Dos outros.

O chão era todo água. Quando procurei o papel, cadê? Perguntei a velha, que só falava italiano, lógico, me disse que não tinha. Que só tinha pra lá e apontou. Eu não sabia se eu tinha que comprar o papel num outro lugar ou o quê. Não entedi nada. Daí eu olhei no mapa e tinha um outro banheiro do lado da Torre. Eu já fiquei mais tranquilo! Tinha uma outra opção! Catei o meu dinheiro de volta e fui embora.

A sitação estava no limite meu amigo. Eu suava feito cuzcuz. Virei pra Léa, expliquei o que aconteceu no banheiro e segui na direção que a velha mandou. Foi a caminhada mais longa da minha vida. Eram uns 200 metros apenas mas a luta pra chegar até lá "são e salvo" foi grande.

E a Léa falava comigo: "Que linda a Torre!". E eu: "É" e só! Só tava preocupado em uma coisa. Vocês sabem o quê.

Cheguei no banheiro e tive que pagar uma graninha pra outra senhora. O banheiro era perfeito. Tipo banheiro de restaurante chique. Todo limpinho, super moderno daqueles que você não precisa tocar em nada e o banheiro sabe que você quer dar descarga, lavar ou secar as mãos. Ótimo! E foi aí que aconteceu o pior.

Eu tenho uma teoria que vou tentar colocar de alguma forma na minha tese de doutorado. É o seguinte. Desculpe o meu francês meninas mas o cú sabe quando tá chegando no banheiro. É impressionante! É a única parte do corpo que tem esse tipo de poder extra sensorial! Eu tenho até uma fórmula: a vontade de cagar aumenta diretamente proporcional a distância entre você e o vaso. É impressionante como o seu rabo tem a exata noção de distância. É algo mais preciso que GPS.

Pois então. Depois de pagar e seguir pra última cabine do banheiro eu pensei que não ia segurar. A vontade veio como nunca! Cada passo era um desafio. Cada passo era uma batalha vencida. Cada passo era uma conquista!

Abri a porta da cabine e verifiquei logo o papel. Tudo ok! Tudo limpinho. Maravilha! Mas eu pensei comigo mesmo: "Não vai dar tempo".

Minha barriga parecia uma bomba relógio. A cada segundo parecia que a hora de explodir estava chegando. Quando eu abaixei a calça mal deu tempo de mirar direito e BUM! Foi aquela explosão. O chão tremeu, a parede rachou e eu fiquei, finalmente, aliviado.

A pressão subcutânea esteve num nível nunca antes alcançado. E eu fiquei ali, reflentindo, aliviado, o que seria de mim se não tivesse esse banheiro. Fiquei alí "refletindo" por meia hora.

Depois de refletir bastante era hora de ir embora. Mas na hora que eu levantei a perna eu senti algo estranho, se é que você está me entendendo. Na verdade a explosão aconteceu um pouco antes da hora correta, entende? Pois é. Fiquei mais meia hora tentando resolver esse outro problema.

Depois de quase uma hora, e meio quilo mais leve, fui finalmente apreciar a Torre Inclinada.

Tive a brilhante e original idéia de tirar uma foto como se estivesse segurando a Torre. Mas depois de andar 10 metros comecei a ver que todo mundo tinha tido a mesma idéia brilhante e original. Enfim.

 

O complexo da Torre Inclinada, que inclui a Catedral, o Batistério e a Torre, foi contruída durante os séculos X até o XIII.

A Torre foi a última a ter sua construção iniciada. Ela foi contruído sobre um solo arenoso e isso fez ela pender logo depois de sua construção. Há alguns anos engenheiros ficaram com receio que a Torre realmente caísse e fizeram um enorme trabalho na base da Torre de Pisa para que ela ficasse do jeito que hoje está. Pode-se inclusive subir nela hoje.

Turístas do mundo todo são atraídos pela Torre Inclinada. Mas a Torre já atraiu outro tipo de gente. Galileu já subiu na Torre pra largar 2 bolas de ferro do topo dela e provar sua teoria ao mundo. Até então acreditava-se que quanto mais pesado o corpo mais rápido ele chegava ao solo. Mas Galileu dizia que não. Que o tempo de queda independia da massa do objeto. Para provar isso ele subiu na torre com 2 bolas de ferro de pesos diferentes. Se a teoria dele estivesse correta as bolas iam chegar juntas ao chão senão a mais pesada deveria chegar primeiro. Depois que ele jogou todos viram que as bolas chegaram exatamente no mesmo tempo e então acreditaram nele. E foi isso que meu professor Colbert me ensinou nas aulas do ginásio, seguido de um monte de fórmula é claro! Mas isso não vem ao caso.

Eu parei embaixo da Torre e me imaginei naquele tempo. Com o Galileu logo alí tentando provar a sua teoria. É bacana viajar no tempo e na história quando a gente vai em lugares assim com séculos de vida.

Pois bem. A gente ficou algumas horas por ali apreciando as contruções. A Catedral e o Batistério são de beleza ímpar. Todos as três construções seguem a mesma arquitetura. Bem bonita. A Torre Inclinada é igualmente linda. Mesmo que não fosse inclinada provavelmente atrairia turistas pela sua beleza. Talvez não tantos mas certamente atrairia turistas.

Prestem atenção o quanto a Torre afundou no chão arenoso e entenda porque ela é tão torta.

 

 

 

No início da noite, que na Itália era por volta de 20h mais ou menos a gente voltou pra Florença. O trem que a gente pegou foi uma maravilha. A gente pegou uma cabine de 6 pessoas só pra gente. Os bancos viravam cama, tinha ar condicionado e tudo o mais. A viagem foi super confortável.

Chegamos em Florença e fomos pro albuergue. Amanhã é dia de se despedir da Itália e voltar pra casa.


Acordamos tarde e fomos nos despedir da Itália em nosso último dia de viagem. A viagem valeu a pena, sem dúvida. Gastamos mais do que imaginávamos mas tudo foi válido. Se alguem tem curiosidade foi algo em torno de 2000 reais mais ou menos por 7 noites na Itália em três cidades diferentes. Se viesse do Brasil só a passagem pra Itália deveria custar mais de 3000 reais por exemplo.

Conhecemos os principais lugares e nos divertimos bastante. Tivemos alguns contratempos nesse intermédio mas eu faria tudo de novo sem pensar duas vezes.

Percebemos muitas coisas estranhas durante a viagem. Só indo a Itália que você percebe que só tem marceneiro por lá. É um tal de prego1 pra lá e prego pra cá. Impressionante! Eu, como sou moderno, cumprimentava dizendo parafuso.

Outra coisa estranha é o ciao deles. Comecei a perceber isso quando a gente chegou num lugar e a mulher mandou um "ciao". Eu pensei: "Como assim? Quer que a gente vá embora diga!". Com o tempo fui percebendo que o ciao deles é usado não somente quando se vai embora mas sim como um cumprimento quando se chega também. Então é uma tal ciao na chegada, ciao na saída, ciao pra tudo que é coisa.

E da série coisas estranhas que você vê quando põe os pés pra fora do albuergue na Itália está essa moda Chitãozinho e Xororó ridícula. É uma febre isso! Todo mundo com o cabelo de Chitãozinho e Xororó pela Itália toda! RIDÍOCRO!!! Percebam a camisa do Brasil...

Voltando a viagem... Chegamos na estação de trem meio dia. O trem pra Roma partiria às 13:09h. Tínhamos que voltar pra Roma pra pegar o avião de volta a Londres. E aí começa a nossa viagem de volta que durou nada mais nada menos que 22h!!! Imaginem como a gente chegou em casa.

O trem partiu de Florença e chegou em Roma quase às 17h. Ficamos esperando mais 1h até o próximo trem para o aeroporto Ciampino. Descemos na estação, que não é no aeroporto, e ficamos esperando um ônibus que ia pro aeroporto. Chegamos lá algum tempo depois e ficamos algumas horas esperando o avião que ia partir só às 21:45h.

A viagem foi tranquila mas não posso deixar de falar de um casal de chinêses ou sei lá o quê que vieram brigando a viagem inteira!!! IMPRESSIONANTE!!! Que povinho miserável. E a mulher dando a maior lição no cara. O china deve ter feito algo muito errado coitado. Mas o mais interessante é o jeito que a mulher falava. Ela sempre estica a última sílaba da frase. É horrível de se ouvir aquilo. Ainda mais durante a noite toda! Parece que não tem consoantes! Só vogais! E é tudo anasalado! Eles falam pelo nariz! Era mais ou menos assim:

-- Âîôuãããããããããããããããã...
-- Ûîôûâûîõõõõõõõõõõõõõõ...

E assim foi a viagem inteira. Hehehe! Niguem merece!

Chegamos em Londres meia noite. Chegou a hora da imigração. Aquele medo né? Dessa vez com trezentos documentos fomos eu e Léa pro guichê. Uma mulher no atendeu, perguntou meia dúzia de coisa, olhou no computador alguma coisa e nos deixou passar sem muito problema. Graças a Deus.

Ficamos mais aliviados e fomos procurar um lugar pra dormir. Pois é! Não tem como voltar pra Southampton nesse horário daqui de Stanstead e a gente teve que passar mais uma noite no chão do aeroporto. Dessa vez a gente estava tão cansado que a gente dormiu um pouco mais que a outra vez.

Pro Zorbão isso nunca foi problema, isso a gente já sabe. Imaginem como foi agora que ele estava cansado e com sono.

Quando deu umas 4h da manhã a gente levanta pra ir pegar o primeiro ônibus pra Southampton. Um frio miserável! A gente num calor desgraçado na Itália e volta pro frio infeliz da Inglaterra. Não tem nariz que aguente! É gripe na certa. Ou, como a Léa diz, friagem na certa!

De lá a gente seguiu para Londres. Em Londres a gente tinha que esperar mais 1 hora até o ônibus pra Southampton. Foi difícil ficar sentado naquele banco viu nego véi. Pobrema! Eu estava exausto. Eu, pela primeira vez, entendi a sensação de dormir acordado. Tinha horas que eu olhava pra frente e perdia os sentidos. Estava vendo tudo mas não estava ali sabe? E só despertava quando a cabeça ia caindo. Foi a hora mais difícil da volta: ficar alí sentado naquele banco desconfortável esperando o ônibus.

Entramos no ônibus pra Southampton e seguimos pra casa. Dormi alguma coisa no ônibus mas era desconfortável demais pra dizer que descansei alguma coisa.

Depois de algumas horas chegamos em Southampton. Pegamos um taxi e chegamos em casa. Eram 10h da manhã! Eu quase não acreditava. O corpo estava exausto. Eu só queria dormir. Tomei um banho e caí na cama! Outra dessa só daqui a 1 ano. Até eu me recuperar de novo. Mas valeu muito a pena.

Pra quem ainda não viu todas as fotos podem dar uma olhada clicando aqui. Pra quem já viu vale dar uma outra olhada agora que entendem o que cada lugar é.


1Prego quer dizer obrigado, pois não. Algo como um cumprimento qualquer. O cheers inglês, por exemplo.

9 de agosto de 2004

Viagem a Itália - Florença - dia 6

Acordamos, empacotamos tudo e seguimos de Vaporetto para a estação de trem para chegarmos a Florença, nossa próxima parada.

Deu uma dor no coração por ter que pagar 5 euros pra ficar 60 segundos dentro de um Vaporetto. Por mim eu não pagava. Mas enfim. Ainda tentei vender os bilhetes mas todo mundo na fila queria comprar o passe de 24h, ou viagem pra Murano, ou qualquer outra coisa, menos o passe de 90 minutos. Paciência.

Compramos o trem mais barato. O trem partiria 1h depois e a gente ficou dando um tempo lá na estação.

Sentamos no chão (já estamos até acostumados) e vimos o tempo passar. Uma coisa que chamou a atenção foi a quantidade de bicha louca que tinha na estação aquele dia. Era um tal de "homem" de shortinho de lycra colado e chapeu de cowboy, nego rebolando pra lá, nego desmunhecando pra cá... Eu hein... Então tô doido...

Pegamos o trem perto de meio dia e nos despedimos de Veneza.

O trem estava vazio, as cabines tinham ar condicionado, as poltronas eram confortáveis e Zorbão, com toda a sua rara capacidade de dormir de qualquer jeito em qualquer lugar, conseguiu a façanha de dormir assim por uma meia hora. É um prodígio esse menino!

A viagem de trem foi a mais bonita que já fiz. Florença fica no meio das montanhas e a paisagem é simplesmente fantástica. Muitas árvores, muita montanha, fantástica. Dava gosto ficar olhando e apreciando...

Chegamos em Florença e seguimos andando para o albuergue. Era super perto da estação de trem. Florença é outra cidade pequena também. A parte central da cidade a gente pode percorrer em uma tarde apenas.

Chegamos no albuergue e tivemos uma boa surpresa. Quem nos atendeu foi a Dona Rita. Uma velhinha super simpática, dona do albuergue, que nos recebeu com toda a sua hospitalidade.

Ela não falava uma palavra de inglês mas a gente parecia que falava a mesma língua. A gente entendia o italiano dela e ela o nosso português.

O quarto era só nosso. Eram 4 camas e tinha até frigobar e tv. Mais um acerto.

Prestem atenção no teto do quarto. Bem no clima da cidade de Florença.

Descansamos um pouquinho e fomos dar uma volta por Florença.

Florença foi durante o século XV a capital cultural e intelectual da Europa. Ainda hoje a cidade é como uma uma grande obra de arte a céu aberto. Foi o berço do Renascimento e possuiu cidadãos ilustres como Michelangelo, Dante e Maquiavel. As maiores atrações da cidade ficam concentradas dentro uma área tão pequena que a cada passo que você dá você se depara com uma visão mais interessante que a outra.

Foi engraçado perceber como as cidades que a gente visitou são diferentes umas das outras. Eu senti Roma como uma metrópole calma. Uma cidade milenar onde você se depara com construções de antes de Cristo e com um pouco da loucura de uma capital. Veneza é única no mundo inteiro e não somente na Itália. Cidade peculiar com seus becos e canais. Pequena, aconchegante e romântica. Já Florença uma cidade cercada por museus, nas montanhas, cheia de obras de arte nas suas ruas estreitas e que realmente sugere cultura e arte.

Saímos do albuergue e a primeira visão interessante foi da Piazza della Republica e seu arco.

Seguindo um pouco mais chegamos à Santa Maria del Fiore que, com seu enorme domo, é a principal marca da cidade de Florença.

Ela é a construção mais alta da cidade e mais uma vez se diferencia de todas as outras catedrais que já ví. Toda coberta por mármore branca, verde e rosa, possui também uma beleza única.

Em frente a catedral está o Batistério que é uma das construções mais antigas de Florença. Ele data do século IV. Foi contruído mil anos antes da própria catedral. Difícil de acreditar que aqueles prédios, que parecem ter sido feitos juntos devido ao estilo e proximidade, foram construídos com um intervalo de mil anos entre um e outro.

O Batistério chama a atenção pelos seus portões. Verdadeiras obras de arte.

No mesmo conjunto está o Campanário. Um pouco menor que o domo.

Santa Maria del Fiore:

O Batistério e seus portões:

Continuamos a nossa caminha e Florença se mostrava cada vez mais interessante com suas ruas estreitas e suas casas antigas.

Chegamos a Piazza della Signoria. Era aqui que ficava o Davi de Michelangelo até 1873 quando foi substituída por uma cópia.

O Davi de Michelangelo é talvez a sua obra mais importante e foi restaurada a pouco tempo e hoje está na Galleria dell'Accademia, aqui em Florença. No fim das contas é mais uma daquelas estátuas de homem nú com o pingolim ao vento.

Seguindo o nosso caminho achamos logo ao lado da Piazza della Signoria o Uffizi.

O Uffizi foi contruido entre 1560 e 1580 como um conjunto de escritórios para o Duque Cosimo. Depos veio a abrigar as peças de arte da família Médici e se tornou a mais antiga galeria de arte do mundo.

Hoje ele abriga muitas obras famosas e é um dos museus mais famosos do mundo.

Atravessando o Uffizi a gente se depara com o Rio Arno. Vemos as montanhas e a bela paisagem de Florença. A direita temos a Ponte Vecchio.

Essa ponte é a mais antiga da cidade e uma das poucas que sobreviveu a Segunda Guerra. A ponte é ocupada por várias lojas. Por volta de 1300 quando ela foi construída as suas lojas eram ocupadas por ferreiros, açogueiros e curtidores de couro que jogavam o seu lixo no Arno. Mas hoje em dia a ponte é ocupada por joalherias. São dezenas de joalherias com suas vitrines douradas.

Seguindo mais um pouco chegamos ao Palazzo Pitti. Mais um museu da cidade. É uma construção enorme, toda de pedra, bem imponente.

Continuamos nossa primeira caminhada pela cidade. Passamos pela bela Ponte Santa Trinita, tivemos uma visão do outro lado da Ponte Vecchio e seguimos até a Piazza di Santa Maria Novella onde fica a igreja Santa Maria Novella.

Essa praça ficava muito perto do nosso albuergue e a gente aproveitou pra sentar nos bancos da praça e descansar um pouco.

Depois de alguns minutos a gente voltou para o albergue pra tomar banho e descansar mais um pouco.

Depois a gente resolveu comer um Kebab que a gente viu na Piazza di Santa Maria Novella. Relembrar um pouco um sabor já conhecido. Na verdade quando eu vi o nome Kebab numa placa já sabia que o Zorbão ia querer dar uma passadinha por lá.

O Kebab estava bacana. Saímos de barriga cheia e fomos dar uma circulada pela cidade.

Passamos novamente pela Santa Maria del Fiore e vimos a catedral iluminada. Depois seguimos um som alto. Parecia alguma festa. Acabamos chegando na Piazza della Republica onde havia vários artistas se apresentando. Gente pintando quadros, caricaturas, gente cantando, gente tocando. A cidade era movimentada a noite...

Depois de um tempo perambulando voltamos pro albuergue pra dormir que amanhã a gente vai dar uma passadinha em Pisa pra tentar desentortar aquela torre.