17 de março de 2008

Viagem a Morro de São Paulo - A Volta (parte 1)

E começa a viagem de Catamarã. A vinda, como disse foi tranquila. O mar calmo e a ansiedade da chegada fizeram a viagem passar rapidinho. Mas a volta... Isso sem falar na Karen que ainda vai aparecer na história.

Nos primeiros metros eu já senti que o parangolé ia ser diferente... O Catamarã balançava mais que a bunda da Preta Gil correndo.

Léa ficou logo enjoada. E eu também na verdade. Não teve Dramim que desse jeito.

O Catamarã tinha em cada cadeira aqueles saquinhos de vômito pra quem quiser dar aquela gofadinha básica (argh!). Léa catou o saquinho dela e me falou que ia vomitar a qualquer momento.

Eu estava um pouco melhor que ela naquele instante mas a situação estava complicando. Não tínhamos nem 30 minutos de uma viagem de quase 3 horas e já estávamos naquela situação.

O Catamarã continuava a balançar mais que a bunda da Preta. As ondas enormes pareciam que iam engolir o barco. As vezes a água entrava na parte externa do barco e batia nas escotilhas com força. Entre uma onda e outra a gente só via água pelas janelas. Uma situação bem tranquila vocês podem perceber.

Léa continuava naquela agonia de vomita não vomita e eu resolvi ensinar a ela uma técnica ninja que aprendi ao longo dos anos. A idéia era manter os olhos em um ponto fixo à frente e não desviar o olhar pra tentar diminuir os efeitos do balanço do barco.

Só tinha um probleminha: o ponto fixo à nossa frente era uma TV onde passava o show de Aviões do Forró!

Você leu certo: passava o show de Aviões do Forró...

Uma coisa é você ouvir Aviões do Forró no São João cheio de licor de maracujá na cabeça ralando o bucho no arrastapé com a nega véia. Outra é você ter que assistir todo o show sem poder tirar o olho da tela sob pena de ficar mais enjoado ou até vomitar.

Eu me vi dentro do filme Laranja Mecânica do Kubrick. Sabe aquela cena que amarram o cara em frente a uma tela que mostrava várias cenas de violência e ele com o olho mantido aberto por uma engenhoca e umedecido com um colírio de tempos em tempos? Pois é. Era eu assistindo Aviões do Forró no Catamarã.

Mas não tinha outro jeito. Eu tinha que ficar olhando para aquela tela. No início eu estava meio resistente mas chegou um momento que começou a ficar divertido.

Pelo que entendi a "banda" tem dois vocalistas: Xandinho e Solanja. Xandinho parece com o Chong Li do Grande Dragão Branco depois da dengue e com um feixe de molas no joelho. Ele não parava nem um segundo de flexionar aquele joelho enquanto cantava naquela dancinha miserável o tempo todo. Fora isso ele insistia em mandar umas onomatopéias durante o show pra animar a galera: Turucutum Diriguidon, Piriquiti Ziriguidum, e por aí vai. O pior é que colocaram essas coisas até nas legendas! Imagine a alegria do infeliz que teve que entender e transcrever aquelas onomatopéias para as legendas. E você reclamando do seu trabalho.

Sem falar que esse Xandinho parece que tem um caso com o baterista: o Riquelme. Toda hora mandava Riquelme agitar. Riquelme pra cá. Riquelme pra lá. Percebam que virei especialista em Aviões do Forró depois dessa viagem, né?

Já Solanja é uma gordinha que na época estava grávida e que, ao invés de cantar, gritava mais que uma cacatua psicótica.

Mas enfim! Voltando à viagem...

Seguíamos naquela viagem interminável com aquele Catamarã balançando, as ondas batendo e Aviões cantando.

De tempos em tempos alguém tentava se locomover dentro do barco. Na certa pra ir pro banheiro vomitar. Mas o que eu via era o povo se batendo em tudo que é coisa que encontrava na frente. Era cotovelo batendo em cabeça, gente quase caindo em colo de gente e nego segurando no que via pela frente pra não cair no balanço do barco. Mas o mais impressionante eram os tripulantes do barco se locomovendo. Parece que eles desenvolveram uma técnica-ninja-de-locomoção-em-barco-que-balança-pra-cacete! Impressionante mesmo. Só vendo pra crer. Todo mundo caindo e se batendo e eles andando rápido de um lado pro outro sem tocar em nada. Inclina prum lado, equilibra de outro e vai embora como se nada estivesse mexendo.

Tinha um tiozinho que trabalhava no Catamarã que toda hora vinha com um saquinho de vômito com conteúdo. Se é que vocês estão me entendendo...

Como eu estava no fim do barco toda hora o tiozinho vinha com um saquinho daqueles cheio e passava por mim. As vezes o conteúdo era marronzinho (feijoada?), outras era meio verdinho (maniçoba?) e algumas vezes tinha um tom meio avermelhado (moqueca?). Não sei se essa era a única função do coitado naquele barco mas se for é uma profissão PIOR que a do legendador de Aviões do Forró. E você reclamando do seu trabalho.

Mas como o tiozinho já tinha aprendido a técnica-ninja-de-locomoção-em-barco-que-balança-pra-cacete eu não ficava com (tanto) medo dele passando toda hora com um saco de vômito de cor diferente por mim. Isso até a hora que veio uma mulher, magrinha, com uma cara de sofrimento, bem abatida, caminhando em minha direção.

À medida que ela vinha eu fui entendo melhor o que estava acontecendo. Na mão esquerda ela tinha um saquinho daqueles... bem cheio. Acho que tinha uns 500 ml de ex-comida. Se é que vocês me entendem... Acho que pra facilitar a identificação do conteúdo o saquinho era meio transparente. Tinha feijão e arroz grudados na parede interna. E lá vinha a mulher andando com aquela cara de quase-morta. Como ela não possuia a técnica-ninja-de-locomoção-em-barco-que-balança-pra-cacete com a mão direita ela tentava se segurar no que aparecesse. Tentava pegar nas cadeiras, bagageiro, cabelo de quem estivesse perto. Com a mão esquerda ela ia trazendo o saquinho cheio. Por onde ela ia passando as pessoas iam se afastando com medo do iminente banho de ex-comida. Algo, convenhamos, não muito agradável.

Nessa hora Léa resolveu me perguntar alguma coisa mas eu não estava escutando absolutamente NADA! Eu só conseguia ver aquela mulher caminhando em minha direção com aquele saco de cheiro azedo. Quando ela chegou bem pertinho de mim ela esticou o braço pra entregar o saco pro tiozinho. No momento da troca das mãos até o mar parou na expectativa do que ia acontecer mas felizmente nada demais aconteceu.

Depois que a tal mulher deixou o saquinho com o tiozinho ela resolveu passar a mão no canto da boca e tirar aquele feijãozinho que estava ali grudado e que só ela não percebia.

Depois de passado o episódio entram no barco, vindo da parte externa, uma menina completamente bêbada caindo por cima de todo mundo. Essa é a Karen...



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7 de março de 2008

Viagem a Morro de São Paulo - Dia 4

Último dia no paraiso... Alegria de pobre dura pouco mesmo, fazer o quê. Fui então aproveitar o dia e esticar ao máximo a viagem.

Procurando um pouco de tranquilidade lá fomos nós para a 4ª praia. Léa não queria ir com medo do Guaiamum Vingador mas eu acabei convencendo ela dizendo que a gente ia para um outro lugar mais distante que aquele onde o guaiamum morava.

Ficamos de bobeira naquelas piscinas transparentes durante algumas horas só pensando na recessão da economia dos Estados Unidos, o estouro da bolha imobiliária americana e outros assuntos compatíveis com o ambiente. O mar estava mais tranquilo que mosquito em perna de tetraplégico.



Momento vidinha mais ou menos





Depois de exaustivo debate economico/financeiro com Léa resolvemos ir na tirolesa de Morro que eu, macho que sou, tinha prometido que ia descer desde o momento em que pus os pés no lugar.

Pra chegar lá é dureza. Não é uma trilha na Chapada mas é dureza. Léa reclamou desde a hora que apareceu a primeira ladeira no meio do mato até a hora que a gente chegou no topo no morro.





Passamos pelo Farol e no fim da trilha tivemos aquela visão bacana das praias de Morro de São Paulo. Até Léa parou de reclamar.



Depois de tirar umas fotos e contemplar o lugar lógico que chegou a hora da descida da Tirolesa. Na verdade nem tão lógico assim...

Achei na internet que essa é a maior tirolesa do Brasil com mais de 300 metros de comprimento e 57 metros de altura. Algo como um prédio de 14 andares.

Foi aí que eu constatei uma coisa muito interessante da natureza humana. Descobri que a sua vontade de ir numa tirolesa é inversamente proporcional ao quadrado da altura que você está em relação ao solo. Como a tirolesa de Morro é alta pra cacete quando eu cheguei lá em cima a vontade de descer na tirolesa era praticamente nula. Sumiu! Escafedeu-se!

Dá até pra deduzir a fórmula:

Vt = 1/A², onde Vt é a vontade de descer da tirolesa e A é a altura em relação ao chão.

Batizei de o Teorema da Tirolesa mas pode ser aplicado também em outros divertimentos radicais como rapel, pára-quedismo, escalada e afins.

Enfim. Descemos o morro (andando, lógico) e fomos arrumar as trouxas que logo depois do almoço a gente vai pegar o Catamarã de volta.

Voltamos a almoçar no restaurante do francês que tinha um monte de guloseimas interessantes. Comemos um crepe salgado, outro doce e mais 2 docinhos que eles fabricam. Léa que já não gosta...



Antes de pegar o Catamarã a gente deu uma passada no Forte do Morro. O sol estava se pondo e o visual era fantástico.



Depois disso entramos no Catamarã, demos um até logo a Morro de São Paulo e nem desconfiávamos que logo logo iria começar a Via Crucis da Karen. (Que Karen?)





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16 de fevereiro de 2008

Viagem a Morro de São Paulo - Dia 3

Acordamos cedo por causa do passeio. Cedo quando eu digo é umas 8h. É cedo pra quem está de prega em Morro de São Paulo. A primeira coisa que eu fiz foi abrir a janela pra ver se os 130 reais investidos no passeio iam ter o retorno esperado ou não. Abri a janela e... estava um sol daqueles! Só alegria!

Fomos tomar café. Dessa vez eu vi logo que não tinha cebola com tomate pros gringos. Não entendi exatamente o porquê.

Continuei comendo um bolinho, uns pasteizinhos (!?) e lá pelas tantas fui pedir um ovo mexido pra "minha tia":

- Minha tia. A senhora faz um ovo mexido pra mim?
- Ôh menino... Por que você deixou pra pedir só agora que os gringos chegaram?
- Por quê?
- Ah meu filho. Se deixar esses meninos comem ovo com tomate e cebola todo dia. Não tem como não.
- Ah tá.
- Mas me dá um pão escondido que eu frito um ovo pra você.

Lógico que eu dei um pão pra ela colocar o ovo. Depois eu fiquei pensando: como é que eu vou comer esse pão com ovo sem esses 20 israelenses verem? Os gringos vão ver e vai ter uma rebelião aqui nessa pousada. Vai ser a revolta do ovo com tomate e cebola!

Recebi o pão com ovo meio que escondido e comecei a comer. Toda hora caia pedaço de ovo mexido no prato quando escapulia do pão. Os gringos olhavam o ovo no meu prato e iam pedir pra mulher com aquele português de Israel:

- Pur favou. Duis óvos.

E a mulher respondia gritando como se os gringos fossem surdos:

- HOJE NÃO! SÓ AMANHÃ!

Os gringos olhavam pra meu pão, olhavam pra ela e deixavam pra lá...

Eu comi logo aquele pão pra evitar mais estresse e fui embora que o menino da lancha já tinha ido lá na pousada me chamar que passeio já estava pra sair.

Chegamos no lugar combinado que era a uns 100 metros da pousada que eu estava. Esperamos mais alguns minutos e lá fomos para a lancha para começar o passeio.

O barco era um daqueles Flexboat meio lancha meio bote. Se ele virar lá no fundo pelo menos não afunda.



No inicio Léa estava meio tensa. Pegar mar aberto com aquelas ondas não era exatamente o que ela estava esperando.

Mas o medo logo desapareceu na primeira parada quando a gente chegou nas piscinas naturais de Guarapuá.

De cima do barco a gente conseguia ver uma quantidade inacreditavel de peixes naquela água transparente.

A gente seguia andando pelas águas e tinha que pedir licença aos peixes que se batiam na gente.



Na verdade os peixes são mal acostumados. O pessoal que ia pra lá levava pão pros peixes que já estavam viciados naquele esquema. Se deixar de ir turista pra lá é capaz dos peixes morrerem de fome porque não sabem mais buscar comida.

Teve uma menina que levou uns 10 pães pra dar pros peixes. Até Léa pegou uma ponga e deu pão pros peixinhos.






De lá paramos na praia de Itacimirim/Cueira já na ilha de Boipeba.

A praia é de cair o queixo. Não dá pra explicar a beleza do lugar. Nem com foto. Já ví muita praia bonita mas aqueles coqueiros sumindo no horizonte e nem um pé de gente pra contar história foi fantástico.



Nessa praia tem um pescador que montou uma "barraca" embaixo de uma amendoeira. Eu sentei ali naquela sombra com aquele vento bacana vindo do mar e pedimos uma porção de lagosta com 5 lagostas a 25 reais! Eu e meu amor, naquela praia linda, comendo lagosta e gastando 25 reais! Se viesse um Suriname daquele mar (como diz minha tia Vânia) e me matasse eu morria sorrindo!



Momento vidinha mais ou menos







Depois de alongar esse momento ao máximo nós precisávamos ir para a Boca da Barra em Boipeba. Ou iríamos de lancha ou seguiríamos por uma trilha. O cara da lancha fez uma pressão pra gente pagar um guia pra não ter problema de se perder no meio do mato e pra ele ir descrevendo os lugares, a fauna, a flora... E eu paguei.

O pessoal estava saindo com os seus guias e eu ví um menino sentado e perguntei se ele levaria a gente. Ele disse que sim com a cabeça. Nem abriu a boca o miserável. Só na hora que eu perguntei quanto era que ele disse que eram 2 reais por pessoa. Como eu não queria me perder no meio daquele mato eu resolvi acertar com o guri.



Pegamos a trilha e seguimos em frente. O "guia" seguia na frente... calado. A trilha seguia sempre reta e o "guia" seguia à frente... mudo. E lá fomos pela trilha. O caminho era bonito. Valeu o passeio mas a trilha era uma reta só desde a saída! Não tinha errada. Não tinha como "se perder no meio do mato".

E nessa fomos andando. O infeliz do guia começou o passeio mudo e chegou no fim calado. Fauna e flora é o cacete! Não aprendi o nome de nenhum matinho daquele, de nenhum passarinho que cantava! Nada!!! Foram os 4 reais mais perdidos da viagem. O miserável do "guia" só abriu a boca quando eu disse a ele que só ia pagar 1 real pra ele porque eu não tinha trocado.

- Aí não dá não.

Pra isso o infeliz abriu a boca. Troquei o dinheiro e paguei os 4 reais do menino.

A Boca da Barra é muito bacana também. Água quente e calma, umas 2 barracas e muita tranquilidade.

Ficamos alí naquele paraíso sem fazer nada naquela paz e tranquilidade.



Momento vidinha mais ou menos





Ficamos por alí até a saída do barco. Seguimos pelo Rio do Inferno. Deus é mais... E foi.

Chegamos em Cairú. Uma cidade histórica das redondezas. Na chegada a gente é abordado por uns 300 guias querendo mostrar o lugar.

Depois do guiazinho de Boipeba eu não queria mais saber de guia. A galera do barco foi subindo meio que junto a cidade e um guia logo se meteu no meio e descreveu a cidade que era aquela rua e nada mais...

Quando a gente chega no fim da rua tem um mosteiro e o guia pede um trocado pro pessoal. Eu virei pra ele e mandei cobrar do guia mudo de Boipeba.

Fomos entrando no mosteiro. Logo na entrada tinha um padre pegando um dinheiro do pessoal. Eu achei que o pessoal estava comprando uma camisa de lembrança.

Estávamos vendo uma igreja caindo aos pedaços quando veio um rapaz do mosteiro avisar que eram 2 reais por pessoa e quem tivesse "esquecido" de pagar era pra voltar na recepção.

Eu mandei o cidadão cobrar do guia mudo de Boipeba e fui embora.

Descendo a ladeira eu parei num bar pra beber uma água e perguntei ao dono se tinha banheiro. Ele me perguntou de volta:

- É pra homem?

Eu disse que sim que era pra mim. Aí ele apontou pro fundo do bar.

Depois daquela pergunta eu sabia que coisa boa não ia ser aquele "banheiro".



Quando eu cheguei no local e vi isso usei a velha tática de uso de banheiro químico no Carnaval de Salvador: dei uma puxada no ar do lado de fora e segurei a respiração até o fim rezando pra que a mijada terminasse logo.

Depois dessa pegamos 50 minutos de barco até chegar em Morro já anoitecendo.





Aqui nessa foto dá pra ter idéia de todo o passeio que a gente fez:



Apesar de cansados deixamos nossas coisas e fomos comer. Paramos numa pizzaria rodízio sem botar muita fé mas a surpresa foi ótima. Tudo muito gostoso. Tinha uma de calabresa com gorgonzola que era excelente.

Comi 25 pedaços e o garçom magrelo disse que eu era fraco. Ele falou que já comeu 30. Disse que teve um cara que apareceu lá que comeu 42 pedaços de pizza. Eu perguntei se o cara saiu de lá andando e o tamanho do infeliz. Ele disse que o cara saiu tranquilo e que magro ainda por cima.

Depois dessa voltamos pra pousada com as panturrilhas doloridas pra descansar um pouco que amanhã é dia de despedida.



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