22 de março de 2004

Chegada na Inglaterra

Toda a mudanca de lá de casa foi muito sofrida pra mim.
Primeiro foi Luciana. O adeus de uma semana. Os choros incontroláveis da separação. E tudo o mais.

Depois foi largar o “meu cantinho” como minha mãe bem definiu. Passei praticamente 6 anos de minha vida ali naquele quarto que agora ja não existia mais. Eram só paredes, um computador num canto e uma janela na outra. Tem gente que não cria raizes que muda de casa a cada ano mas eu sou bem diferente.

Eu ainda não tinha percebido ate então mas eu estava largando toda a vida que eu conhecia. A vida com Luciana, ali naquele quarto, assistindo minhas séries, mechendo no computador. Foi ali que eu amadureci. Foi ali onde tudo começou. Tomara que esteja fazendo a coisa certa.

Depois eu fui pra Feira com mudança e tudo. Chegando por lá eu tinha que tentar arrumar tudo que eu tinha juntado em minha vida em caixas e deixar trancado em algum armário.

A tristeza que invadia o peito era enorme. As lágrimas derramadas pareciam infinitas. Mas de repente eu me vi as 6 horas do domingo. Dia da viagem pra Inglaterra.

Eu simplesmente não entendia o que estava pra acontecer. A ficha não tinha caido ainda. Tomei meu banho e fui com minha familia pro aeroporto. Antes disso foram milhares de telefonemas, de “boas sortes”, de “sucessos”.

Nesse instante, se eu pudesse acabar com tudo e voltar pra minha vidinha de antigamente eu o faria sem pensar 2 vezes.

O tempo todo eu me concentrava para não pensar no que estava prestes a acontecer. O pensamento vinha e eu mandava de volta. E era assim que eu lidava com a realidade.

Cheguei no aeroporto. Todos os tios estavam la. Bacana. Foi muito importante. De repente chegam todos os meus amigos, com cartaz, com presente, com abraços, com carinho. Foi tão bom. Ver todo mundo ali. Pra me dar uma força nessa hora. Foram 36 pessoas minha mãe disse depois.

O choro não veio. Eu estava por demais feliz com a presenca de todo mundo por ali.

O cartaz da galera no aeroporto:
Galera no aeroporto.

A galera reunida:
Galera no aeroporto.

Galera no aeroporto.

Algumas poucas horas depois chegou a hora do adeus de verdade. Do adeus de quem so vai poder voltar a se ver daqui a 6 meses ou mais, quem sabe. Mas o choro não veio como estava no peito. Eu controlei o máximo que pude e ate tentei dar força a quem chorava por mim naquele momento como minha mãe e minha irmã. Mas na verdade eu queria chorar muito mas muito mais do elas.

Fui embora, olhando para trás, já saudoso, mas sem pensar no que estava ficando pra trás. Senão com certeza não iria conseguir.

Entro no avião rumo ao desconhecido. Uma terra desconhecida, pessoas desconhecidas, lingua estranha.

Viajo 8h ate Lisboa. Nao consigo dormir nem 2h. A cadeira eh muito pequena e desconfortavel. O pescoco dói demais. Fui conversando com duas portuguesas super gentis, Anabela e Gisele. Largo em Lisboa, espero 2h e vou para a Inglaterra. Mais 2:30h de viagem.

Eu sou só cansaço, tristeza, medo. Chego em Londres e desço, sozinho, num lugar totalmente desconhecido. Pego minhas malas, agora já sem a ajuda da familia e dos amigos. Paro na imigração e fico uns 20 minutos sendo bombardeado com as perguntas de uma mulher. Fico tentando dar as respostas corretas, nao consigo falar tudo como está na mente por que o inglês não é tão bom assim. Depois de muita resposta consigo o visto de 6 meses. Que era exatamente o que eu queria.

Saio dali, sou parado mais uma vez. Um rapaz pede pra ver meus documentos, me pergunta mais uma meia duzia de coisas e me libera. Saio pelo desembarque e encontro Arjan. Um total desconhecido que vai ser o meu guia por aqui.

Ele foi super gentil e atencioso. Me trouxe no seu carro para Southampton, me levou pra comprar o café da manha do outro dia e me levou pra jantar na casa dele. A comida foi muito estranha. Primeiro ele me serviu umas castanhas e um tal de cherry, uma espécie de vinho de cereja. A comida comecou com um mamão todo cortadinho. Depois foi servido arroz e umas almondegas com molho de tomate. Eu tentava entender o que eles falavam comigo e tentava manter uma conversação.

Liguei pra casa e minha mae atendeu... A saudade foi TÃO grande. Segurei o máximo pq estava numa casa estranha com uma pessoa estranha. Falei com Mila tb. Mas foi tudo rapidinho. So pra dizer que esta tudo ok. Que eu estou aqui agora.

A minha vontade era passar 3h no telefone com a minha familia mas eu não queria abusar do Arjan.

Depois do jantar ele me levou de volta pra casa. Soa até estranho. Que casa? Na verdade a casa do Israel, o quarto do Israel, a cama do Israel. A sensacao de estar num país estranho, numa casa estranha com pessoas estranhas é algo que eu quero esquecer logo. Subi pro quarto depois de guardar as compras e me vi só num quarto. Sozinho. Sem familia, sem casa, sem namorada, sem nada. Só. Provavelmente a pior sensação que já senti na vida.

Tentei arrumar alguma coisa, tomei um banho mas a tristeza era tão grande... Tão grande. E é por isso que eu escrevi isso. Pra desabafar comigo mesmo. Pra tentar parar o soluço do choro. Pra tentar desatar esse nó na garganta que eu estou sentido agora.

Só consigo pensar que a tão pouco tempo eu estava com minha familia, com meus amigos. Só consigo pensar em minha Mãe, em meu Pai, em Mila, em Rafa, tios, amigos. A saudade é tão grande, tão grande.

O medo do desconhecido daqui tambem ajuda a piorar a saudade. Mas isso é uma coisa que eu vou aprender a lidar. Só espero que daqui a uma semana, daqui a um mês, eu esteja melhor. Com menos saudade. Com a cabeça ocupada pelo trabalho.

Mas nesse exato momento eu so consigo chorar e sentir um vazio enorme no peito. Um vazio de solidão, saudade e medo.

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