10 de abril de 2009

Viagem a Morro de São Paulo - A Volta (parte 2)

E então aparece a Karen...

Estávamos eu e Léa lá no fundo do barco tentando segurar o almoço dentro do estômago quando de repente me aparecem duas meninas caindo por cima de todo mundo. Tudo bem que o catamarã estava balançando muito mas elas estavam caindo mais que o normal. Logo vi que o problema era cachaça. E pior de tudo é que eu não sei como essas meninas conseguiram ficar tanto tempo na parte da frente do barco! A parte da frente tinha uma gradezinha de meio metro de altura e elas lá na frente ao melhor estilo "I'm the king of the world".

Elas continuaram caminhando pelo barco em nossa direção. No caminho, para se equilibrar, ao invés de segurar nos bancos elas se apoiaram na careca de um tiozinho, no rabo de cavalo de uma outra mulher e no que acharam pela frente. O catamarã todo nesse instante já estava parado olhando as duas. Até a galera que estava dormindo por causa do Dramim acordou pra ver a confusão.

Chegaram então bem do nosso lado e sentaram em dois bancos que estavam livres. Eu pensei: "Ótimo! Vou assistir de camarote!". E assim aconteceu. Como a cachaça estava em níveis altíssimos logo primeira sentada uma delas sentou meio de banda e foi parar no chão. TEBUFF!

E como numa Via Crusis da cachaça, Karen cai pela primeira vez...

Foi aí que percebi que apesar das duas estarem bêbadas uma delas estava mais bêbada que urubu em fio de luz!!! A amiga "mais sóbria" levantou a outra do chão e jogou de volta por cima dos bancos. O pessoal que estava sentado nos bancos vizinhos percebeu o estado piriclitoso da menina e fez a melhor coisa... saiu de lá! A menina mais bêbada, a Karen, ficou sentada com a ajuda da amiga enquanto riam muito de tudo aquilo. Lembro que elas não paravam de rir hora nenhuma: nem na queda, nem no tombo, nem no banco, só riam... E viva a cachaça!

Sentada a Karen levantou o pé e meteu por cima do banco da frente (que tinha gente sentada, naturalmente). Sabe aquele esquema de cinema quando não tem ninguem na frente e você mete o pé na cadeira da frente? Pois bem, igualzinho, mas tinha gente no banco da frente. Esse pessoal também teve a idéia genial de sair de lá e assim o fez. A Karen já tinha expulsado umas 5 pessoas até esse momento.

Teve um momento que eu acho que ela cansou de deixar o pé pra cima do banco e num lance de contorcionista do Cirque du Soleil foi descendo o pé aos poucos pelo banco da frente e ficou numa posição quase de Yoga. Dificil de descrever. O que eu posso dizer é o seguinte. Como o espaço entre as cadeiras era muito curto o joelho dela ficava dobrado em 90º e batendo no rosto. Se é difícil de descrever imagino que seja difícil de entender, mas difícil mesmo era fazer aquela posição de Yoga da cachaça. E o pior de tudo é que pelo que eu entendi aquilo não doia não porque toda vez que o joelho batia no nariz ela se acabava de rir. E a medicina ainda perde tempo desenvolvendo morfina e afins... Tem é que dar cachaça como analgésico!

Enfim. Depois dessa demorou até mais do que eu esperava pra Karen resolver deitar nos três bancos em que ela se apossou. Se para mim, sentado e sóbrio, estava tudo rodando por causa da tempestade e do mar agitado imagine para essa menina como as coisas não estavam.

Daqui a pouco aparece a amiga. Ela ficava indo lá na frente e voltando. Quando ela chegou e viu a Karen deitada começou a mandar a Karen sentar. E nada de Karen atender. Ela estava em outra dimensão. Daí a amiga comecou a aumentar o tom de voz, aumentar, aumentar e começou a gritar. E gritava com a pobre da Karen. Chegava no ouvido da Karen deitada no banco e falava: "KAREN! LEVANTE AGORA! EU VOU EMBORA! VOU TE LARGAR AÍ!". Eu sei de muita coisa que cachaça provoca: perda de memória, dor na bunda (me disseram), mas surdez foi a primeira vez.

Depois de todos aqueles gritos dentro do ouvido eu fiquei imaginando a Karen no outro dia com aquela ressaca miserável e... surda! Porque uma coisa é certa: a cachaça vai passar mas a surdez não.

Depois disso a amiga ficou pirada e saiu procurando água pelo catamarã. Perguntava à tripulação, a um e outro. E eu pensava: "Apesar de tudo essa amiga é legal. Quer dar uma água pra pobre da Karen pra melhorar a ressaca do outro dia". Daqui a pouco eu ouço ela falando com uma funcionária do catamarã: "Serve água do mar mesmo! Água salgada!". Aí eu pensei: "Ahhhh! Então o problema da coitada deve ser pressão baixa! Apesar da fala embolada, do sorriso torto e do bafo de cachaça o problema é só pressão baixa".

E a amiga procurando o balde. Saiu perguntando ao pessoal se não tinha um balde qualquer que ela mesma ia pegar a água do mar. Bêbada do jeito que ela estava ia cair no mar junto com o balde.

Daí essa amiga some e daqui a pouco aparece com um pacote de Ruffles. Pronto! Agora eu tenho certeza que o problema é pressão baixa mesmo. E eu achando que era cachaça. A outra lá deitada no banco e a amiga dando a batatinha na boca. "Come Karen, você precisa comer um pouco..." E metia o Ruffles que se quebrava todo antes de entrar na boca da menina... Karen não abria a boca, a outra gritava, ameaçava, até que ela conseguiu empurrar uma batatinha pela boca meio aberta. Karen não contou conversa e deu uma dentada na amiga. Pra quê?! A amiga ficou puuuuta, levantou e largou a Karen sozinha.

A Karen, lógico, com a pressão baixíssima começou a se mexer no banco. Ela virava de lado, mexia a perna e eu só esperando o inevitável.

Daqui a pouco ela abaixa uma perna no chão. Onda vai e onda vem a Karen começa a escorregar e... TEBUFF!

Karen cai pela segunda vez...

Caiu e ficou! Hehehe... Do jeito que caiu ela ficou naquele chão sujo de areia e água do mar. Depois de uns minutos os comissários de bordo do catamarã resolveram chamar a amiga de volta pra tirar a menina do chão.

E lá vem a amiga bufando pra "ajudar" a Karen. Ela chegou no pé do ouvido de Karen mais uma vez (o mesmo ouvido da 1ª vez) e mandou: "ACORDA KAREN! KAREN! ACORDAAA!!! EU VOU EMBORA! VOU DEIXAR VOCÊ AÍ NO CHÃO! ACORDA KAREN!".

Depois de alguns minutos de grito a amiga percebeu que não estava dando certo e resolveu mudar a tática. Daqui a pouco eu ouço: "KAREN! VOCÊ TEM QUE SENTAR!" e Pow! Começou a esbofetear a pobre da menina no chão. Era: "KAREN!" e um tapa. Era: "LEVANTA!" e um murro. A amiga descontou a dentada e acertou uns bons tapas de troco!

Aí eu pensei na Karen do dia seguinte: Com uma ressaca desgraçada, surda do ouvido direito e um monte de marca de dedo na cara.

Depois dos tapas a Karen, já surda de um ouvido e com a cara toda inchada, levantou e se sentou. A "amiga" fala uma coisa ou outra pra Karen e volta pra frente do barco deixando a coitada no banco sozinha. Não deu outra. Passou um tempinho a Karen deita no banco, se mexe pra lá e pra cá e... TEBUFF!

Karen cai pela terceira vez...

Era de fato a Via Crusis da cachaça. Só faltava ser crucificada agora. E dessa vez ela caiu com a cara pra baixo. Pelo estalo que eu ouvi acho que por um instante o nariz dela encostou na orelha. Daí volta a amiga pra mais uma sessão de gritos. O barco todo parava pra ouvir os gritos da menina. Dessa vez ela resolveu largar a Karen lá deitada mesmo e foi embora.

Agora imagine a minha viagem: Tempestade lá fora, o catamarã balançando mais que chaveiro de manco, nego vomitando perto de você, aviões do forró nas alturas e a amiga de Karen gritando bem do seu lado. Tava gostoso...

Quando eu achei que a situação estava solucionada (pelo menos estabilizada) me aparece a comissária com um sorriso no rosto e um saco de água enorme na mão. Eu acho que a mulher estava querendo mesmo era ver a putaria comer no centro. Depois de entregar o saco com água pra "amiga" lá vem ela com aquele monte de água em direção a Karen. A gentil amiga com a água na mão começou a ameaçar: "KAREN! LEVANTE! EU VOU JOGAR! EU VOU JOGAR ESSA ÁGUA EM VOCÊ! SENTE NO BANCO!". E a coitada da Karen que além de trêbada estava surda de um ouvido nem esboçava qualquer ação. Aí a "amiga" resolve jogar um pouquinho da água na cara da Karen. E ela nada! Estava quase em coma no chão e nem tchuns! E não é que a menina jogou a água na amiga? Pegou aquele saco enorme de água e deu um banho na pobre da Karen enquanto gritava: "LEVANTA! VOCÊ VAI TER QUE COMEÇAR A SE ACOSTUMAR COM A VERGONHA! LEVANTE!".

Agora imagine o que não passou pela cabeça da Karen. Desacordada, em um barco no meio de uma tempestade, acordando com um monte de água por cima do rosto. E não é que acordou mesmo? Levantou e sentou no banco e conseguiu ficar assim o resto da viagem, meio encostada na parede do barco, é verdade, mas não se arriscou a tomar outro banho no chão do barco não. Querendo ou não a tática funcionou.

E não é que eu nem senti o tempo passar? Quando eu me dei conta o DVD do Aviões do Forró já estava repetindo pela terceira vez, a Karen continuava encostada no canto dela e o catamarã estava parando em Salvador...

Da próxima vez que for a Morro eu vou de carro. E assim o fiz...



Viagem a Morro de São Paulo

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